quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Gente doida

A minha noite. Parece que estou dentro da máquina de lavar roupa da vizinha de cima. O vizinho debaixo está a pendurar alguma coisa e a tentar martelar discretamente (impossibilidade...). A vizinha do lado chegou, ouvi os saltos em cada degrau e estoirou com as portas, a do prédio e a do apartamento. Só falta chegar não sei que vizinho, com a música aos berros, para estacionar o carro na garagem.


Vou-me mudar para o Jardim Botânico. De lá vê-se o rio e o silêncio.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Força

Há impressões de mim que nunca tive, mas que vou percebendo. Nunca pensei que pudesse ter uma personalidade forte ou pudesse sequer assustar alguém com a minha força.

Dez anos de crescimento algum efeito devem ter tido.

Fim

Yeah!!!!!

Gosto de ser assim, sem sentido

É difícil ser de outra maneira. Mas ainda bem que não perdi a capacidade de acreditar em qualquer coisa, mesmo que inútil, mesmo que efémera, mesmo sei lá o quê.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Não...

Não saí de casa o dia inteiro... será possível que tenha ficado pior da constipação ao sair da sala quentinha para a cozinha???

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Era uma vez um blogue...

Ia sendo um quarto blogue, isso ia. Na mudança de conta acabei por perder informações e algumas entradas. Paciência. Para grandes ataques, grandes remédios. Casa roubada, trancas na porta.
Agora tento não deixar rastos, fechar todas as sessões, sejam do que for, mudar password com alguma frequência, etc.E apetece-me voltar a escrever cartas, mesmo. Vou começar com os cartões de Boas Festas.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Flores de outono

Da minha sala, a dos dias de semana, vejo eucaliptos. Estão em flor. Flores brancas.
Nunca tinha reparado nos eucaliptos em flor.
Também não sei que estou aqui ainda a fazer a esta hora. Nem eu nem ela, a hora. Há muito tempo que as horas deixaram de querer saber de mim e correm à vontade delas.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Para ti

Às vezes é mesmo preciso um empurrão para escrever. Um bom empurrão. E uma ligação à net em condições também ajudava.
Mas antes... preciso de um canalizador, aquele que disse que vinha cá há uma semana atrás. Devem ser todos da mesma família. A cor dos canos do apartamento varia entre o branco e o azul claro. Não deve ser normal. Se fosse não tinha água no chão ao pé do lavatório.
Já perceberam por que não tenho escrito? Só coisas que me angustiam.

sábado, 31 de outubro de 2009

Dormir

Dizia-me a Rosa, prima e vizinha: apetece-me dormir, infinitamente.
Às vezes também me apetecem coisas semelhantes. Não me apetece pensar, infinitamente. Mói-me e dói-me o espírito de tão devairadas coisas que o habitam. Amanhã queria ser alface, depois batata, depois água, depois gata, depois eu, apenas um dia, e depois ser feijão-verde, depois sumo de laranja, depois galinha, depois eu, apenas um dia... por que não posso viver e pensar mais devagar?
Por que é que o absurdo faz cada vez mais sentido?

sábado, 24 de outubro de 2009

Inquietação

Eu só queria ter dois dias iguais... nem pedia mais do que isso. Pode ser que para a semana isso aconteça.

domingo, 18 de outubro de 2009

Chegou o frio, esse estafermo

Ontem enchi a botija de água mais ou menos quente e hoje liguei o aquecedor para os pés e embrulhei-me na manta. Tardou, o frio, mas veio. Já agora que chova para eu deixar de regar as plantas... e aquela barragem da Aguieira está tão vazia que faz impressão.
Este blogue está a entrar num registo minimalista absolutamente deplorável.

Absurdos

São 16h e em vez de dormir a sesta liguei a televisão e já me ri a sério com a história da rapariga que tem um novo namorado que é o Cristo Rei que não cabe no elevador. E aquele doido a mandar trabalhar dos outros em tdoas as línguas possíveis.
N'Os Contemporâneos.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ainda sabe a verão. Que bom!
E quem me dera deixar a minha vida em suspenso por uns dias como tenho feito com este blogue.
Até logo.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Outono dourado

Cheguei a Varsóvia ontem à noite, com tempo seco e boa companhia. O hotel é dos que eu gosto, sem demasiados luxos e com uma ponta de anos 70 bem remodelada e aconchegada. Depois do frio de há dois anos, esta luz e o calor do sol, os canteiros cheios de sardinheiras em flor, as esplanadas e as camisolas de manga curta, dão-me uma nova alma da cidade.
Quanto ao congresso, vai ser bom. Mas como diz o meu querido Iván, galego, isto é uma desgraça, vou ter de falar espanhol... Ri-me e perguntei numa cumplicidade terrorista, quoque tu? Pelo menos falarei com o pior sotaque castelhano que alguma vez ouviram na vida. Para se lembrarem que Madrid não é a capital da Península e que as línguas oficiais de um congresso sobre barroco ibero-americano têm de ser pelos menos duas e não são definitivamente o espanhol e o inglês.
Curiosamente, os homens estão mais bonitos, mais bem arranjados, com cabelos menos rapados...

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Mudanças

Acordei com a chuva durante a noite e já não consegui dormir mais até às seis da manhã. Resolvi ver do meu cartão de saúde e fotografias de passe e acabei a arrumar cartões de visitar e a rasgar talões do multibanco. Guardo-os todos religiosamente, podem ser precisos... mas depois deito tudo fora sem conferir um que seja.
Dormi até às sete e quase esmurrei o despertador na parede. Chuva, frio... e uma ida relâmpago a Coimbra. Para um dia de mudança, de assinatura de contrato, não me pareceu nada "auspicioso". Quando cheguei à universidade, quase duas horas depois, com os olhos a doer e depois de dois ou três acidentes a empatarem o trânsito todo, só me animava o facto de poder voltar passada uma hora. E assim foi. As meninas foram simpáticas e prestáveis, mas ainda não assimilo bem a minha nova etiqueta: investigadora doutorada.
Quando descia para a Sé Velha, encontrei a Irmã Fernanda, que já não via há quase dois anos! E naquele abraço tive a certeza de que tudo haveria de correr bem.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Hoje



Estou perplexa. Espero que esta sensação passe, que o sol volte pelo menos ainda hoje, e eu consiga sentir-me leve. mas duvido que tenha muito tempo para pensar nisso...

É oficial. Cumpri 40 anos de vida.

domingo, 30 de agosto de 2009

Desgovernos de S. Mateus


Matterhorn.

Matterhorn diz-vos, caríssimos amigos, alguma coisa? Então façam tudo por tudo para que vos não diga nunca mesmo nada... a não ser que gostem da sensação de absoluta desgoverno que nos toma conta do corpo e da mente, do fechar dos olhos compulsivamente e do empurrar das pernas e do agarrar da barra de ferro como se fosse a única coisa que nos separasse da diluição total.

Ainda tentei imaginar que fazia uma viagem no espaço e oferecer tanto sofrimento pelos doentinhos, mas acho que preferi ver Marte no céu, como esteve nas últimas noites, e duvido que a dor auto-infligida sem outros bons propósitos possa servir para redimir o que quer que seja.

De qualquer forma isto foi a prova de que a minha memória tem uma duração de 15 anos, que deve ter sido quando andei naquela coisa (chamava-se Ice) a última vez e agora, agora, já me lembro como afirmei que seria a última vez. O que me vale é que daqui a 15 anos já estou com demasiada idade para me deixarem sequer comprar bilhete.

Quando cheguei ao parque dos concertos nem conseguia levantar os braços para dançar o Lay all your love on me e estava profundamente enjoada. Devia era ter comido meia-dúzia de farturas e passeado com o Jaime e Anita no carrossel...

sábado, 29 de agosto de 2009

Glorious nigth with the Basterds


Maria João, 16h, sms: Tarentino? Hoje? Copos?
Ciranda: Vamos.

Hamburguer e coca-cola (rápido e eficiente, mais uma tarte de maçã a escaldar...)
Inglorious Basterds (Tarentino só deixou vivos Aldo Raine, o magnífico Hans Landa e outro dos Basterds... e acabou com a guerra mais cedo...)
Irish Bar, duas Guinness (é bom começar a treinar para Dublin...) e boa música.

É. Foi booomm. Tudo bom.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Às vezes


Às vezes pára-se-me a vontade de escrever, de pensar, de existir.
Queria ser planta, um hibisco enorme, com flores vermelhas e ter como único anseio o sol e a chuva.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Rush, o som do coração



Ontem a Niniane fez pipocas, eu e a Berenice comemos tudo a ver August Rush. Foi um belo filme de verão, com boa banda sonora, que me enterneceu. Depois de ter passado a tarde a tentar acabar um trabalho, sem vontade nenhuma, nem inspiração, soube bem relaxar, sem grandes complicações de enredo nem torturas de interpretação.

Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=44nN72E5JDg

Fica a sugestão para uma tarde de domingo, no inverno, com um chá e biscoitos.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Exterminadora II


Que lindas! Volteavam as duas, zumbindo de gosto. Duas mosquinhas, pequeninas, jeitosinhas... brincavam, pousavam, uma por cima, outra por baixo, na manteiga da minha torrada, reatavam o voo e quase lhes ouvia os gritinhos nos loopings sobre a banca, numa sarabanda de fugas e corridas pela cozinha fora, deixando patinhas de gordura e de que sei lá mais o quê por todo o lado.

Vi tudo vermelho. Fiquei tresloucada.
Pah... Pah...

Ide fazer porcarias para o canto dos infernos. Filhas da mãe.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O preço da vergonha


Ontem o Vítor morreu, uma morte triste e desvalida depois de muitos meses de sofrimento. Ninguém brinca com um cancro, mesmo que seja em partes mais íntimas e se tenha vergonha de dizer ao médico e ouvir a nossa vida comentada na rua do café a poucos metros da porta de casa.

Morreu da vergonha. Por muito que isso nos pareça um espelho da ignorância e de preconceitos sem sentido nos nossos tempos. A uma vida sem muita luz seguiu-se uma morte dolorosa.

Berenice, acho que tudo está relacionado.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Exterminadora I


Quando as andorinhas cresceram e começaram a voar fui à garagem e dei-lhes grande admoestação: que fossem à vida, que a temperatura andava nos 35 graus, que as noites estavam amenas e que eu queria limpar a garagem de uma vez por todas. Foi o grande o alarido. Alarido é a palavra certa... nunca pensei ter um bando de andorinhas a reclamar comigo. Já estão avisadas: no próximo ano imigrem mais cedo porque vão ter de procurar casa nova. Ao menos os gatos têm um caixote de areia...


Depois foram as vespas. Já viste aquele ninho que tens ali debaixo da telha, filha? Aquilo são vespas, papá? Eram. Nos meus jantarinhos nocturnos nunca incomodaram, mas de dia começaram a rondar ameaçadoramente à minha volta. Queriam beber do meu café, comer da minha torrada, cheirar-me os cabelos, tirar-me o pólen... e o ninho ia crescendo. Deixei de ser senhora do meu pátio e instalou-se a desconfiança. Fui cobarde, eu sei. Esperei pela coberta da noite... no fim de contas elas eram mais de vinte. Apanhei-as a sono solto, enquanto sonhavam com os meus amores-perfeitos, hibiscos, rosas e hortênsias e congeminavam forma de me arrastar para o interior dos favos.


Pelo menos este ano não tive um carreiro de formigas a atravessar a relva, nem lagartos a apreciar a bancada da cozinha. Só mesmo moscas.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Queda



A minha avó Rosinha morreu com quase cem anos.
Para além de ter sido das mulheres mais bonitas da região tinha um coração bom, uma alma doce e uma delicadeza extraordinária. Quando zumbia à volta dela, eu e mais a dezena e meia de primos e manas que tenho, apenas me lembro de lhe ouvir um sussurrado está queda, menina, está queda...

Quando tenho ideias terríveis a germinar na cabeça, que me desinquietam e atormentam, ainda hoje digo para mim mesma está queda, Ciranda, está queda. Não costuma resultar, mas a intenção é sincera e o esforço é louvável...

E... por falar em vespeiro... ontem dei cabo dele. O pátio é meu.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O meu querido mês de Agosto


Já devia ter acabado o documento que tinha em mãos. É... não acabei. Apesar dos estores corridos o escritório ficou quente demais e balbucio entre o Barbosa Machado, a carta do Marquês de Minas a D. Pedro II, no caminho de Liorne para Roma, o google e a porbase. É muito movimento junto depois de um almoço de feijoada e uma mini fresquinha. Enganei-me no tupperware que descongelei...

Pode ser que à noite continue. E amanhã, minha menina, vais para a biblioteca, comes uma sanduiche ao meio do dia mais um sumo de frutos vermelhos. Se tudo correr bem, hás-de merecer um mergulho na piscina e mais alguma coisita.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Vidros


Gosto de estar perto de coisas bonitas.
Na 5ª feira diverti-me a limpar os vidros da exposição que seria inaugurada com pompa no dia seguinte com a presença do senhor Presidente da República. Foi muito interessante perceber como se tratava apenas da parte final da montagem da exposição e que todo o trabalho principal fora começado antes, muitos meses antes.

Como é que eu fui parar à limpeza dos vidros? Coisas...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Quero o meu primeiro beijo...



Hoje vi o meu primeiro beijo.

Continua elegante, moreno, bonito que baste, nada de estonteante. Cumprimentei-o com dois sorrisos, um abraço.

Ainda te lembras, beijo? De como fugia de ti, de como as palavras me fugiam, de como o chão fugia debaixo dos meus pés e os teus quinze dias de férias na aldeia eram o meu maior tormento?
Esta noite, igualzinha à outra, queria voltar a ter dezasseis anos e cabelo loiro. E outro primeiro beijo.

Para o Glau



Há amigos a quem podemos telefonar cinco horas antes e cancelar um jantar combinado há quatro dias. Amanhã, sim, amanhã. Fica para amanhã. Vamos experimentar umas bebidas giras, deitar conversa fora e comer bolo de chocolate com gelado.

Hoje, bem... sou mesmo tia...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Gosto de ti

Quando queremos estar bem, então, estamos bem, apesar da temperatura e da dor de cabeça. E lá fui para a biblioteca. E lá fui às compras. E lá me enfiei na piscina, num mergulho só.

Mas o Jaime também queria estar bem. Também quero piscina! Fofinho, passaste aqui a tarde toda, deixa-me nadar em paz... Também quero pão com chouriça! Abençoado, eu também, que a manteiga derreteu. Quero ir contigo para tua casa! Não queres nada... Quero! Ok. Calça-te e veste-te.

E veio. E sentou-se à mesa da cozinha, enquanto eu cozinhava e bebia uma cerveja, com as suas batatas fritas e uma caneca de água. Toalha linda na mesa, pratos brancos e guardanapos vermelhos, que ele ajudou a pôr. Ementa: salada de tomate, revueltos com feijão verde, tudo do quintal do avô, presunto ligeiramente tostado com um quadradinho de feta. Não gosto disto amarelo! Gostas, pois, experimenta. Não gosto disto branco! Sim, é possível que não, dá cá que eu como. Não gosto de tomate... se comeres os ovos eu como o teu tomate. Gosto muito de presunto! Pois, querido, já percebi. Quero da tua cerveja! Queres o quê? Bebe aguinha, bebe. Quero ir à casa de banho! Depois de comeres tudo. Estou apertadinho! Ok... Vai comigo! Está bem, meu amor.

E agora? Queres pêssego? Não. Não? Mas comeu metade, aos gomos. E acabou as batatas fritas e comeu dois quadrados de chocolate, sentado ao meu lado, enquanto eu lavava a louça e arrumava a cozinha. Regámos as laranjeiras, as roseiras, a figueira e as hortênsias do quintal, e os vasos e a relva do pátio.

Não se calou um minuto que fosse, perguntou tudo o que lhe apeteceu, não quis ver notícias... nem bonecos... e, no fim, disse obrigado, gostei muito. Vamos à minha mamã? Vamos, meu querido, que daqui a bocadinho desabo no sofá.

O Jaime, meu afilhado, só faz quatro anos em Novembro. Hoje, foi a minha melhor companhia. Fez-me sorrir, falar com doçura, preparar um bom jantar e anoitecer o dia mais quente do ano com o coração derretido com tanto amor.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Querem falar de solidão?

Ouvi a notícia dos dispares num ginásio nos Estados Unidos e depois ouvi um excerto da carta que o homo-suicida deixou. Pareceu-me ter percebido que ninguém gostava dele, que não conseguia ter uma relação com alguém. Não sei se quero saber mais do assunto.
Ontem a minha avó contava-me que há dias em que se sente tremendamente infeliz e sozinha. Eu também. A maior parte das pessoas sente-se assim de quando em quando ou com mais frequência ainda ou até quase sempre. Quando isso acontece, a avó reza, eu como chocolates e bolachas, vejo séries na televisão e vou andar a pé. Ou fico a cismar na minha profunda infelicidade.
Patologias. Patologias que matam. Furiosamente. Temos uma sociedade cada vez mais fechada e há grupos de risco mais acentuado. Há quem não aguente e tome comprimidos, se mande da varanda abaixo ou para debaixo do comboio. Querer arrastar outros consigo, outros que não estão sozinhos ou vão ao ginásio para quebrar essa solidão, é patologia que a comunicação social vai cobrindo e, sem querer, vai incentivando.
Tenho pena de quem é apanhado neste torvelinho, de quem possivelmente fez esforço para vencer a fraqueza diária e para estar de forma razoável na vida em que viu metido e talvez não tenha escolhido. Estou solidária com quem espera todas as manhãs a ver se o dia vai ser melhor, com quem luta com terríveis depressões de que nem entende o motivo e se vê afundar numa angústia destrutiva. Estou solidária com quem reage, com quem grita a sua injustiça no centro de uma cidade, com quem reclama os seus direitos, com quem não fica quieto e incomoda, com quem faz greve de fome para dizer que não quer estar sozinho. Estou mais solidária ainda com quem olha para o lado e vê também a solidão dos outros.
Este foi mais um que matou e matou-se. Sim, e a televisão mostrou e todos viram e ficaram a saber que se sentia muito sozinho e que a culpa era do mundo. Espero que depois de morto lhe tenha feito bem ao ego... e que os outros quatro, mortos ao acaso, se tenham juntado para lhe dar uma valentíssima carga de porrada.
Eu faço um esforço enorme para me manter lúcida. Acreditem. Por isso não tenho paciência.

Dúvidas









Estava aqui a ler um texto das exéquias de D. João V, a ler o programa do Centro de História Religiosa da UCP, que anuncia um colóquio na BN sobre a expulsão dos jesuítas e perguntei-me a mim mesma: teria D. João V deixado crescer uma personagem como o Marquês de Pombal? Bem, D. José também não teve sorte... cai-lhe um terramoto, sofre (inventa-se?) um atentado, tem o Sebastião José de Carvalho à perna...

Volto a D. João V. É um rei estranhamente contemporâneo e artisticamente efémero (trocadilho que se não se esqueceu da basílica de Mafra nem de S. Roque, etc...).

Nota: pesquisei as imagens no google e são retiradas de páginas várias... que não apontei.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Lay, lady, lay

Lay, lady, lay, lay across my big brass bed... e sorrio quando ouço as primeiras notas. Continuo a caminhar, agarrando as alças da mochila, sentindo o céu tão azul e as buganvílias coloridas, cor de sangue. Whatever colors you have in your mind I'll show them to you and you'll see them shine...
Não importa se esta rua atravessa a aldeia, vendo a serra ao longe, ou deambula pelo campo dei fiori. And you're the best thing that he's ever seen... talvez desenhe rotas no verde do mar. Why wait any longer for the world to begin...

Lay, lady, lay, lay across my big brass bed, stay, lady, stay, stay while the night is still ahead, I long to see you in the morning light, I long to reach for you in the night, stay, lady, stay, stay while the night is still ahead...

Há demasiada alegria na memória para que eu ceda à melancolia. Mas já não tenho onde arrumar a saudade...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Tenho duas filhas



Na segunda-feira, quando vinha no comboio, aconteceu uma coisa aborrecida mas que acabou por se tornar um exercício estranho e engraçado. No Oriente, entrou um senhor que ocupou o lugar ao meu lado. Não se calou até eu descer, mais de três horas depois, e deve ter ficado calado enquanto eu adormeci, pouco mais de meia hora, esgotada, com princípios de enxaqueca, com vontade de lhe lançar um terrífico "deslargue, homem", capaz de assustar fantasmas. Achava-se culto e elegante... que D. Pedro mandara perseguir os conselheiros que tinham morto a Rainha Santa Isabel, arrancando-lhes o coração pelo peito... que gostava muito da Camel e da Timberland... Respondi-lhe que de amante a santa vai só um passo, mesmo que tenha de viajar para trás no tempo e conseguir um novo milagre das rosas, e apeteceu-me dizer-lhe que metesse os sapatos onde ele achasse melhor...

Achou por bem aborrecer-me com insinuações sobre a minha elegante forma de vestir, sobre o meu penteado, moderno e prático, sobre a minha incrível forma física (?), sobre a minha inteligência e simpatia (??? eu? euzinha?), que, com toda a certeza, o meu marido devia reconhecer todos os dias...

Às tantas, resolvi divertir-me, já que o comboio ia cheio, sempre com gente a entrar e a sair e não queria problemas com o lugar de ninguém. E inventei uma vida.
O que é que eu fazia? Nada, com a graça de Deus. Tinha feito um curso de economia e gestão de empresas mas, depois de cinco anos numa multinacional, voltara a estudar relações internacionais, e agora tinha-me dedicado mais à vida de família. Fazia voluntariado temporário em ong.s, sobretudo em cenários de guerra.
Quanto ao meu marido, que sim, que todos os dias de manhã me beijava e me dizia que eu era a mulher mais bonita do mundo. O meu marido era um homem absolutamente fantástico, bonito, com um sorriso do tamanho do mundo, um coração ainda maior, generoso, inteligente, culto, meigo e divertido. Não lhe disse qual era profissão dele... a bem dizer, com tantas qualidades, nem pensei muito nisso. Mas, acho que gostaria de tê-lo bem perto, todos os dias. In progress.
Filhos? Claro que sim, um menino e duas meninas, a crescerem, bem comportados e responsáveis. Que eu era uma mãe como não havia outra. E por aí adiante... que tínhamos um jardim, um cão e um gato...

Até que me cansei. Ele não. Continuou a falar, não sei de quê. Depois ri-me e pensei, arre, mulher, que trabalheira de viagem e de vida que tu foste arranjar...

E ri-me mais ainda quando pensei na trabalheira de vida ainda maior que tive. Mas nessa ele não iria acreditar.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

BN

Se eu vivesse em Lisboa passaria na Biblioteca Nacional a maior parte dos meus dias. E, aliás, quando mais tempo passo fora do país, mais gosto da BN. Então em Agosto, apesar do horário mais reduzido (e não é tempo de mandar os investigadores beber uma cervejinha às 17.30 para sua própria sanidade mental...?), ainda é melhor.

Mas ainda é melhor poder ir almoçar com amigos, a Maria (a minha estudante de fado, alemã, em Oxford...) e o Gerardo (de quando o sol brilhava em Roma e nos encontrávamos perto da Gregoriana). A parte de tarde do trabalho na BN já foi à vida, e muito bem.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Eles



Perder o meu diário de Roma foi muito mau. Ontem estive até às três da manhã a ver fotografias e fiquei mais consolada por me conseguir lembrar dos lugares e de onde são as fotos. Mas perdi as pessoas. Tenho fotografias de lugares, de ambientes, mas não de pessoas. Era delas que falava o diário, das conversas, das impressões... tudo perdido.

Por outro lado, será um sinal? Eu odeio sinais. Este parece dizer muito claramente: quando voltares a Roma as pessoas terão mudado, mas a cidade das fotografias estará lá. Errado, eheheh!!! Desta vez as pessoas estarão sempre na cidade eterna porque nada destruiu a alegria que elas me fizeram sentir e viver, porque fui eu que as procurei e aceitei, porque a cidade foi minha e nossa, não apenas delas...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Outros naufrágios


Mas onde eu queria mesmo naufragar era numa praia de areia branca e luminosa, com um mar transparente, um coktail de gelado de limão e champanhe no fim da tarde, e duas mãos simpáticas para me porem protector solar de quando em quando. E um livro (podia ser uma daquelas coisas antigas do Max du Veuzit...), e o mp3...

Mas não... acho que sou a única alma nesta biblioteca. O que até sabe muito bem.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Naufrágio


Raramente sonho. Os meus sonos costumam ser descansados. Um sono só. É muito bom.

Mas hoje sonhei com naufrágios, com navios-fantasma, desertos de marinheiros e outras criaturas do mar. Acordei com a impressão de um suave marulhar, comigo em cima de uma prancha de madeira, meia desmaiada, num alto mar cinzento, com o céu carregado, sem praia nem rochedos à vista.

Quis voltar a dormir e a sonhar para ver se morria ali mesmo, gelada, afogada, comida por tubarões... ou se a história tinha um final feliz nos braços de um capitão de navio pirata. Não consegui. Ouvi ao longe um marulhar, é verdade, mas era o tambor da máquina de lavar-roupa que tinha programado para as seis e meis da manhã... é tão desconcertante descobrir o fundamento vulgar de sonhos tão inflamados!

Andorinhas


A minha garagem foi invadida há uns três meses. Ainda tentei fechar a porta, mas elas fizeram tanto barulho e foram tão insistentes que eu desisti. Este já é o segundo ninho, atrasado em relação às outras andorinhas que já partiram. Estou ansiosa para ver como é que eles aprendem a voar!


terça-feira, 28 de julho de 2009

De ciranda


O Luís Miguel chamou-me "horaciana" quando lhe contei que tinha de regar a horta do meu pai. Este ano está mais pequena mas tem alho francês, feijão-verde, corgetes, couves, repolhos, tomates, pimentos, pimentos de Padrón, abóboras, espinafres... e girassóis. Acho que não deixei nada de fora. Gosto imenso daquela horta.

Mas, horaciana???
Habibi, uma horaciana não teria nadado meia-hora na piscina, não teria passado vinte minutos ao sol, deitada na relva, e regado a horta de bikini. Vou-te explicar isso quando almoçarmos. Ou chamaste-me horaciana por causa daquela coisa do exegi monumentum aere perenius? Hummm???


És uma chata

Recado nº 1
Detesto que me perguntem "tudo bem"? Pior ainda "novidades"? Dois segundos a seguir à primeira pergunta, que costuma ser o tempo que me dão, não dá para responder que estou com um humor de cão molhado e, quando a novidades, as minhas não interessam a ninguém.
Conclusão: és uma chata.


Recado nº 2
Odeio conversas sem sentido ao telefone, daquelas que apenas servem para marcar uma dedicação mínima a um compromisso. Tudo bem, beijo... pois, quero lá saber...
Conclusão: vais ficar cada vez mais chata.

Orienta-te, menina. Ou vais fazer do mês de Agosto um inferno.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Os meus meninos...

André: Vou levar a bola e podemos jogar com ela dentro de água!
Telmo: Acho que não podemos. Sissi (perguntou o Telmo à mãe do André), o André disse que podíamos jogar à bola dentro de água! Podemos?
Sissi: OH! (com impaciência e um forte encolher de ombros).
Telmo: A tua mãe disse que não podíamos.
André: Ela não disse isso. Só disse OH!
Telmo: Pois! E sabes o que isso significa? Que tu estás maluquinho da cabeça!

Ainda me estou a rir. O fim-de-semana foi tão bom... que até dói.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

De que falas tu?


Costumo ser indulgente com os meus caprichos. Às vezes sai-me cara tanta indulgência. Não estou a falar de custos monetários, como é óbvio, embora tenha os meus momentos de absoluta extravagância, mas de outros custos, de empenhamento de tempo e de alma.

Faz-me muito bem bater de caras com a impossibilidade. Quero. Pois, mas não podes. Ponto final. Parece tão fácil, não parece? Parece, mas eu tenho um coração sem memória e sem proibições. Como resultado deste comportamento inconsequente, há-de bater na parede muitas vezes e um dia há-de desistir. Bem, não será "desistir": há-de conformar-se, é mais correcto. Mas depois não lhe abram grades, nem frestas, nem portinholas, nem lhe dêem espaço. Não respondo por ele. Há-de acabar bêbado numa sarjeta, o palerma.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Chove...


Acordei às seis horas da manhã... nem queria acreditar. Li um bocado daquela coisa em americano (aquilo não é inglês...) até tocar o despertador. Levantei a persiana e vi um céu escuro, mas ainda não chovia. Agora são estas horas e chove tanto, tanto, tanto, que não vou ter de regar as laranjeiras até ao Inverno.

Mas o dia foi simpático. Almocei comida chinesa, encontrei um artigo engraçado sobre umas coisas barrocas, conversei, apanhei três molhas... estive com a Tá e vim para casa já tarde. Tomei um belo banho quente, a ver se aquecia (imaginem...), fiz umas tostas de salmão e mozarela, com uma Abadia, mais um pêssego e três fatias de pão de ló de leite (demorei três dias a comer um bolo que levou sete ovos... isto não vai dar bom resultado...) E vi a Samantha who na Rtp2.

Não sei se trabalhe. Acho que não. Não vou agora estragar o dia...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Dedicatória


Hoje recebi um livro. Quando cheguei, já estava em cima da minha secretária no gabinete da Biblioteca. Conheço-o muito bem. Li-o algumas vezes antes de ser impresso.

Mas o que tem de melhor é a dedicatória. Uma das mais bonitas que já li. Que bom!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Solo


O teatro não estava cheio. Longe disso. Pena. Foi um espectáculo soberbo este Solo, com coreografia e interpretação de Philippe Decouflé, da Compagnie DCA. Não sabia que se podia dançar com tantas partes do corpo ou multiplicar o mesmo corpo em palco dando a ideia súbita de uma multidão em sicronia.
"A dúvida habita-me" era o mote de Philippe. Mote e motor de criação artística desde sempre.

Proponho-vos que vejam o vídeo, uma interpretação espantosa do Le petit bal perdu, de Bourvil. Philippe interpretou este mesmo tema em palco, a solo. A Garance e a Louise, a quem é dedicado, são as duas filhas dele.


O refrão:
Non je ne me souviens plus
du nom du bal perdu.
Ce dont je me souviens
C'est de sont ces amoreux
Qui ne regardaient rien autour d'eux.




segunda-feira, 13 de julho de 2009

Bolinhos da sorte

Em Setembro, quando estive no Cape Cod com o Pe. Gilbert, houve uma noite mais complicada e fomos jantar tardíssimo a um restaurante chinês em Falmouth. Gosto de comida chinesa: sabe-me sempre ao mesmo em todo o lado. Conversámos imenso nessa noite. Bebemos chá de jasmim e abrimos apenas o meu bolinho da sorte. No one is standing in your way anymore, time to moving forward. Achámos justo e acertado.

Já em casa, duas semanas depois, é que comi e abri o segundo bolinho: Appearance can be deceiving. Remember endurance makes gold. Falei com o Pe. Gilbert e novamente achámos justo... e acertado.

Passados 4 meses o Pe. Gilbert morreu de ataque cardíaco. Hoje, acho que a minha visita, naqueles cinco dias, foi estranha. Dormi no quarto onde dormia e morreu a minha tia, corri os livros dela, toquei-lhe nas roupas, passeei no farol onde ela gostava de ir, apanhei das flores que ela tinha plantado... mas não tive, nem terei nunca, a gentileza e a paciência que ela tinha.
Agora pergunto-me: custava muito?

E tudo isto porque as profecias dos bolinhos da sorte estão presos no meu segundo écran do computador. Ainda hoje.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Queria ver o mar

Como afirma Daniel-Rops, em L´Église de la cathédrale et de la croisade, “la coutume d’aller, par grandes masses, en un lieu de culte vénéré, qu’on retrouve dans toutes les religions et sous toutes les latitudes, était aussi vieille que l’Église” (1952:86)... há duas horas que parei aqui... e já escrevi isto em 1999...

Talvez sejam as notas de Satie que agora se demoram no prélude de la porte héroique du ciel... porte héroique du ciel? Basicamente é isso... vamos lá, vamos lá a duas horas de puro heroísmo, que a mim só me apetecia partir outra vez, não sei para onde, nem por quanto tempo.

Inércia


Quero ser estátua, definitivamente. Não quero sentir, não quero mexer-me, não quero falar. Viver tanto todos os dias cansa-me.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Retrato do meu quintal

As minhas laranjeiras estão a ser atacadas por uma praga de conchinhas pretas. As roseiras estão a precisar de descanso (não param de dar rosas há mais de dois meses e vão continuar até Outubro... ). O chão está coberto de ameixas, pequeninas, quase selvagens, mas ainda há muitas nas árvores. A erva está seca. As cinco couves com quase dois metros de altura estão a encher-me o quintal de sementes. Há pelo menos cinco rotas de formigueiros a atravessá-lo. A cidreira já devia ter sido apanhada e posta a secar. As hortênsias são cor-de-rosa. As rosas também, mas foi a minha avó que as plantou há mais de 20 anos. O tanque está cheio de água, com bichinhos a rabiar.
... estou mesmo a precisar de uns dias de praia.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Ainda o esporão

Há um senhor, o sr. Crispim, perto de Santa Comba Dão, que é um homem bom e sábio. Graças a ele consegui andar bem por Roma durante tanto tempo.

Agora o outro lado: chegou a marcação da consulta de ortopedia no hospital. Hoje. Quatro meses depois. Com hora marcada e indicação de que me tinha de apresentar 15m antes e com os devidos documentos. Lá fui, apesar de já não doer nem ter esporão no calcanhar. Para me certificar que estava tudo bem.
Esperei hora e meia. O médico nem sequer apareceu, nem a funcionária me soube dizer onde estava. Numa intervenção cirúrgica mais demorada? É possível. Mas ninguém sabia. De dependesse dele é possível que já nem conseguisse andar e tivesse de esperar mais um ano por uma operação da qual me seria doloroso recuperar.

Há quatro meses atrás esperei meia hora que o sr. Crispim me visse o pé e mais dez minutos para convencê-lo (ao pé e ao esporão) de que ser galinha não era boa ideia. Poupei bastante ao Estado. Poupei-me a mim muito sofrimento. Por que é que o sr. Crispim não trabalha num hospital?

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Jaime, je t'aime.

- Jaime, anda calçar as sandálias que a relva está a ficar húmida. Queres sentar-te na escada ou no sofá?
- Não quero calçar-me.
- Isso não está em discussão, meu amor. Queres sentar-te no sofá ou na escada para te poder calçar?
- No sofá.
- És um querido. Tens umas sandálias muito bonitas, sabias?
- Os teus sapatos também são bonitos.

Gosto tanto de ti, Jaiminho. Por favor, não cresças tão depressa.

Maiorca II

Acordei de noite a pensar em Maiorca, nas minhas últimas férias em Palma, num passeio delicioso a Valldemossa, o amarelo dos fenos, o azul do Mediterrâneo e os troncos retorcidos das oliveiras.
Chopin e George Sand passaram o inverno de 1938 em Maiorca, onde o compositor completou os seus Prelúdios. Muitas coisas batem certo, agora.

sábado, 4 de julho de 2009

Maiorca


Achei estranho o nome da coreografia do Paulo Ribeiro. Chopin lembra-me Varsóvia, frio intenso e chuva. Maiorca lembra-me a cor ocre do calor e o azul do Mediterrâneo. Depois achei que talvez fizesse sentido. Nas notas de piano que saíam dos dedos do Pedro Burmester, solitárias e melancólicas a maior parte dos prelúdios, misturava-se a exuberância dos gestos no palco.

Reconheci num e noutro lance os gestos da minha alma quando segue as notas do piano. Surpreendi-me com a beleza de um e outro passo. Nos momentos desiguais da dança compensava a execução brilhante.

Gostei, muito.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Just another day



Acordei tarde, com dor de cabeça, depois de sonhos estranhos, aqueles sonhos que só acontecem quando nos devíamos já ter levantado há pelo menos duas horas. De qualquer forma, são sempre muito interessantes pelo que guardam da memória e apresentam de intuição.

Lavei a louça do jantar de ontem, de que pouco me lembro. Resolvi matar saudades de uma Abadia fresquinha, deliciosa, e adormeci no sofá. Entretanto, à minha maneira super-bem-educada, devo ter resmungado sobre o tarde das horas e mandado embora quem lá estava...

Não me apeteceu pequeno-almoço. Mordi umas ameixas do quintal, verti um copo de leite na banca, verti o detergente da roupa no chão, fui almoçar na casa da minha mãe, e... verti o café na mesa e no chão quando saí para tomá-lo. Ainda estou a tentar ficar sossegada a ver se passa esta má onda ou se as minhas mãos ficam firmes ou a minha alma menos inquieta.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Regresso

A casa. Senti falta deste écran de computador, enorme... dos beijos dos meus pequeninos; de um bom abraço, demorado. De pouco mais. Roubei um litro de leite à minha mãe e alguma fruta. Vou ter de cozinhar???

Vou demorar tempo a pôr tudo em ordem. Eu e a minha ordem. Consegui escapar-lhe dois meses. Agora está aqui, à minha espera, e ainda bem. Mas eu tenho memórias de dias felizes, que se hão-de prolongar no tempo. Existem aqui, in imo corde et anima.

domingo, 21 de junho de 2009

Ressalva

Quando disse, aí num post abaixo, que em Roma queria ser peixe, entenda-se "nunca no Tibre"... ontem acho que vi uma ratazana a nadar por lá, no fresquinho da noite.

sábado, 20 de junho de 2009

Lost

Perdemos e ganhamos. Se pesarmos bem talvez consigamos não sofrer com a perda. Há sempre rumos novos para a água.



sexta-feira, 19 de junho de 2009

Anjos



Gosto de asas.

Água



A todas as horas. Em todo o pensamento. Em todo o meu corpo.
Definitivamente, em Roma, no verão, eu queria ser peixe.

domingo, 14 de junho de 2009

Postal


Deixa-me lá ver:
São Pedro
Conciliazione
Borgo Santo Spirito
Santa Maria Traspontina
Santo Spirito in Sassia
Ponte dos Anjos
Tibre...

Mr. and Mrs. Smith



Entro na Gregoriana ao som de um tango e ensaio uns passos no átrio. Foi feito para dançar... será que eles sabem?




Piazza Navona

Principessa.

Foi tudo o que me chamaste neste verão romano, com sabor a gim tónico, feito de sorrisos demorados e alegrias coloridas caindo das varandas.

Agora todos me chamam assim, com ternura, principessa.







Lucio Dalla


Pedi-te música para o mp3, misturando todo o meu italiano de maior charme com um português insinuante. Fizeste um sorriso e eu devia ter desconfiado. Passei o dia a ouvir uma coisa chamada Lune, de Lucio Dalla, te voglio bene, sai, te voglio bene, e mais não sei o quê, chorando e gemendo desesperadamente. Mas, bem no fundo, um som tão mediterrânico…
Nem consegui ficar nostálgica. Passei todo o dia com uma vontade louca de me rir.

E de beijar.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Já agora...

Abençoada BN. Abençoada.
Abençoada UCBG. Abençoada.
Abençoada BMV. Abençoada.
Abençoadas, todas elas, e todas as outras.

Esta gentinha por aqui pára de trabalhar antes das duas da tarde. Depois? Ainda não percebi bem. Mas deve ser qualquer coisa como um dolce far niente, uma dolce vita, ou o raio que os parta a todos.

Metamorfose


Queixo-me do mar agitado. Depois aborreço-me nas águas mansas.

Por isso, já não me apetece só molhar as mãos e matar a sede em cada fonte de Roma. Agora o que eu queria mesmo era mergulhar e ficar quieta lá bem no fundo. Seixo branco.

Caminhos portugueses em Roma (título oficial)


Villa Lusa, 12.30h.

Entrada e recepção da Ciranda na Embaixada Portuguesa presso la Santa Sede.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Templo de Adriano




Puxaste-me por um braço para a penumbra das colunas e senti o algodão fresco da túnica nos meus braços. Fazias-me sentir rainha.

De repente, vi que vestias uma camisa branca, tinhas um cachimbo na boca e um veleiro nas mãos. Prometeste dar notícias do teu mar e do nevoeiro das ilhas. Também eu, murmurei, te contarei das minhas serras e dos seixos do rio.

Só há um tempo, Adriano. Este tempo em que me fazes sentir feiticeira.

domingo, 7 de junho de 2009

Fontana


Disseste baixinho que querias ver-me nua. E o rubor tingiu as águas e incendiou Neptuno.


Já perdi a conta às vezes que fotografei esta Virgem.
Mas esta fotografia é a mais bonita, a mais forte, a mais viva, a mais feliz. Porque é assim que eu me sinto. Como uma borboleta colorida no Campo de' fiori.

A fábula, muito breve, de doria pamphilj






Ali eu ficaria. Reclusa. Ali eu esperaria, semana a semana, que tu viesses. Ali, eu, principessa di tuo cuore, cuidaria das peónias e as aves comeriam da minha mão.

Aqua


Ainda não eram nove horas da manhã e eu já só queria ser pomba.

sábado, 6 de junho de 2009

Anima pacis



Começo a ficar cansada dos arquivos.

Restam-me inúmeras e imensas cúpulas e abóbadas. Nas mais conhecidas há curiosos que distraem. Mas nas outras estou só eu a maior do tempo. Só eu e a minha história. Para companhia basta.

terça-feira, 2 de junho de 2009



A Eberhard, conte di Württemberg, di ritorno da Gerusalemme nel 1480 fu chiesto se avrebbe consigliato di seguire da sua stessa strada per raggiungere la Terra Santa; rispose: "Vi sono tre cose che non posso né consigliare né sconsigliare: il matrimonio, la guerra e un viaggio al Santo Sepolcro... Possono cominciare bene e finire molto male".

John Ure 2006:27.

Pietas



Rendi-me.

Rendo-me com muita facilidade ao talento de Miguel Ângelo. Mesmo quando acho que já está tudo visto e revisto. Mas não está. A minha percepção da beleza é definitivamente diferente. O reconhecimento pode ser doloroso.


Para o Glau


Gosto dos pormenores. Apesar de frequentemente desatenta. Em Roma olho sempre para cima, para as cúpulas, arcos e abóbadas, para os frescos, arcos e espirais. Depois deixo cair o olhar nos marmoreados do chão.

Já não me espanto. Agora tudo me comove.



domingo, 17 de maio de 2009

Non posso credere

Ali, a 50 metros, estão os muros do Vaticano. Ouço os sinos da Basílica mesmo ao lado. Vai ser assim no próximo mês e meio.
D. Rodrigo, meu gentil marquês, a Piazza Colonna fica mais longe.

A Ciranda vai a Roma

E chegou no dia 15 pelas 18.30h.
Dei uma de estrela, pintei os lábios e assentei os óculos de sol, entrei no taxi para o Colégio sem hesitar no meu italiano em duas lições...

Está um calor dos demónios. Roma está igual às outras vezes, mas eu sinto-me viva, brilhante. Como eu gosto de viajar sozinha! Mas é muito bom conviver com historiadores da arte e da igreja, mesmo ao lado. Ainda por cima são divertidos!

Sombras: o meu Gonçalo está muito doente. Ainda não tem cinco anos, o meu amor lindo. Os olhos brilhantes também são das lágrimas que espreitam ao lembrar constante deste pesadelo.

Tenho de lidar com tudo isto, com o trabalho, a arte e a beleza, a saudade e a angústia.




quarta-feira, 29 de abril de 2009

Artes de diplomacia


1 de Junho de 1657

Carta de Francisco de Sousa Coutinho, embaixador em Roma, ao secretario Pedro Vieira da Silva. Pelos motivos que allega, reputa-o seu inimigo, e quer que como tal o considere tambem. Para tudo o que diz tem provas na sua mão, sufficientes para seu descredito. Pode ir afiando as armas para quando elle embaixador regressar a Portugal; se até aqui teem luctado com a penna, chegarão a arcar, e quem melhor oração souber melhor a diga.

Ora esta! Maus fígados...

domingo, 26 de abril de 2009

How green was my valley


Fiquei presa, sentada no sofá, aconchegada na manta. How green was my valley. Continua mágico, sobretudo nestes dias de sol. Sou eu que visto cinzento.

sábado, 25 de abril de 2009

Para vocês

Glaukie, Sinhá, Moriana, Alex, Emily... obrigada.

Ontem à noite tive um arremedo de discussão... enfim, para quem não fala horas seguidas, levantar a voz um bocadinho já parece discussão. Mas parece que não foi ou, como sempre, ficou tudo muito mal resolvido. Por mim, quero lá saber...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

À espera


Dei conta por acaso que era dia 24. Cresceu-me o cabelo, os brancos estão mais visíveis. A claridade mostra-me o pó no chão e nas cómodas. As flores secaram na jarra e a água ... bem, a água já deixou de ter cor e cheiro.
Mas descobri o filho da mãe do secretário do embaixador que escreveu aquele diário quase ilegível... e tenho um novo herói, inventado à medida da virtus barroca, D. Rodrigo.

E tenho vontade de escrever, muita. E talvez até de compor a fotografia do blogue...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Interregno

Quebro este interregno por causa da Nikita. Porque fez dois aninhos, porque fala como os papagaios e os periquitos todos juntos, porque dá abraços que sabem a pipocas e algodão doce, porque apagou as velas cinco vezes e de todas cantou os parabéns e bateu palmas enquanto saltava de alegria na cadeira.

Porque tu, Nikita, e mais alguns pimpolhos, fazem-me sempre ver a vida como promessa. Ainda.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A Seven casa amanhã. Já arrumei as malas e vou sair não tarda nada.

Vim ver o correio e o escuro do blogue pareceu-me sombrio. A fotografia sai dos limites do enquadramento, mas hei-de compor quando vier. E também tenho de fazer o jogo da Alex. Aliás, está quase feito.

As flores da noiva já estão no carro. Levo-lhe também esperança e alegria. Todos precisamos.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Que se passa com os meus dias? Por que razão as horas se alvoroçam e atropelam?

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Carnaval

Nove mortos contabilizados na operação Carnaval.

Esta gente sai de carro para ir à guerra or what a hell is this?

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Vieira

Depois de duas conferências, que me deram muito gosto, acho que arrumei os sermões do Padre Vieira por algum tempo. Já estava a ficar predicada com tanto conceito.

Fiel



Acordei com uma valente ressaca depois de ter bebido ao jantar dois copos de vinho tinto do Douro. São três vezes mais do que eu costumo beber, é verdade. Mas apeteceu-me com o pão de centeio e as azeitonas. Paciência.

Mas até aposto que com um Dãozinho isto não teria acontecido.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Memorando



Para um homem se ver a si mesmo são necessárias três cousas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo há mister luz, há mister espelho, e há mister olhos. Que cousa é a conversão de uma alma senão entrar um homem dentro em si, e ver-se a si mesmo?

Sermão da Sexagésima, III.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A minha vida tem


Zonas de sombra cada vez menores.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Será que levantar mais cedo ajudaria?


Todos os dias quero começar de novo. Até chega a ser constrangedora a conversa comigo mesma mal acordo. E todos os dias têm sido diferentes... mas nenhum perfeito.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Migro ou hiberno?

Ajudem uma pobre alma atormentada... e atolada na neve. Onde já se viu isto???

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Legítimo

Lembrei-me de um desejo repentino para 2009: conseguir ler um segundo livro do Lobo Antunes, sem ser as Crónicas.

Pedir fotografia à Moriana borboleta...


Há dias que nos caem no estômago como absinto. Chegamos à noite sem saber se dói ou se agrada, se rimos ou se choramos. Acordamos no dia seguinte ainda perplexos, mal refeitos para outra jornada.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Querido Zafón e a epígrafe que eu precisava

Leio isto com o sorriso de chacal de Andreas Corelli... com um sorriso leve de quem encontrou ouro.

- As fábulas são possivelmente um dos mais interessantes mecanismos literários que se inventaram, Martín. Sabe o que nos mostram?

- Ensinamentos morais?

- Não. Mostram-nos que os seres humanos aprendem e absorvem ideias e conceitos através de narrações, de histórias, e não de lições magistrais ou de discursos teóricos. É isso mesmo que qualquer dos grandes textos religiosos nos mostra. Todos eles são narrativas com personagens que têm de enfrentar a vida e ultrapassar obstáculos, figuras que embarcam numa viagem de enriquecimento espiritual através de peripécias e revelações. Todos os livros sagrados são, antes de mais, grandes histórias cujas intrigas abordam os aspectos básicos da natureza humana e os situam num contexto moral e num enquadramento de determinados dogmas sobrenaturais. (...)

O Jogo do Anjo, 250.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Ursa polar não tarda nada

Está a nevar

furiosamente...

Sentidos extremos

A compaixão. Sentir compaixão. É avassalador.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Little bird



Achamos que as pessoas duram para sempre e que o abraço pode ser dado mais logo, amanhã, ou talvez depois.
Errado.

I'll miss you, uncle Gilbert.
And what about the little bird?