sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Querem falar de solidão?

Ouvi a notícia dos dispares num ginásio nos Estados Unidos e depois ouvi um excerto da carta que o homo-suicida deixou. Pareceu-me ter percebido que ninguém gostava dele, que não conseguia ter uma relação com alguém. Não sei se quero saber mais do assunto.
Ontem a minha avó contava-me que há dias em que se sente tremendamente infeliz e sozinha. Eu também. A maior parte das pessoas sente-se assim de quando em quando ou com mais frequência ainda ou até quase sempre. Quando isso acontece, a avó reza, eu como chocolates e bolachas, vejo séries na televisão e vou andar a pé. Ou fico a cismar na minha profunda infelicidade.
Patologias. Patologias que matam. Furiosamente. Temos uma sociedade cada vez mais fechada e há grupos de risco mais acentuado. Há quem não aguente e tome comprimidos, se mande da varanda abaixo ou para debaixo do comboio. Querer arrastar outros consigo, outros que não estão sozinhos ou vão ao ginásio para quebrar essa solidão, é patologia que a comunicação social vai cobrindo e, sem querer, vai incentivando.
Tenho pena de quem é apanhado neste torvelinho, de quem possivelmente fez esforço para vencer a fraqueza diária e para estar de forma razoável na vida em que viu metido e talvez não tenha escolhido. Estou solidária com quem espera todas as manhãs a ver se o dia vai ser melhor, com quem luta com terríveis depressões de que nem entende o motivo e se vê afundar numa angústia destrutiva. Estou solidária com quem reage, com quem grita a sua injustiça no centro de uma cidade, com quem reclama os seus direitos, com quem não fica quieto e incomoda, com quem faz greve de fome para dizer que não quer estar sozinho. Estou mais solidária ainda com quem olha para o lado e vê também a solidão dos outros.
Este foi mais um que matou e matou-se. Sim, e a televisão mostrou e todos viram e ficaram a saber que se sentia muito sozinho e que a culpa era do mundo. Espero que depois de morto lhe tenha feito bem ao ego... e que os outros quatro, mortos ao acaso, se tenham juntado para lhe dar uma valentíssima carga de porrada.
Eu faço um esforço enorme para me manter lúcida. Acreditem. Por isso não tenho paciência.

6 comentários:

Glaukwpis disse...

Lúcida?
A graça está em quebrar a regra ;)

Olinda disse...

e eu para me manter louca, cirandinha.:-)

Anónimo disse...

Mais esforço ainda com temperaturas de 30 graus, ou mais, e uma dor de cabeça irritante.

Mas escrevi mais 4 páginas no artigo! Olé!

Olinda disse...

olarilólé e venham mais quatro.:-)

Josuué disse...

Ensaio sobre a solidão, a revolução anti-solitária, e a reacção pro-solitária... ah, e as panaceias de cacau!
muito bom!

Anónimo disse...

As panaceias do cacau são muito boas, Josuué! Mas há outras... mais criativas!
Um abraço.