sexta-feira, 31 de julho de 2009

Eles



Perder o meu diário de Roma foi muito mau. Ontem estive até às três da manhã a ver fotografias e fiquei mais consolada por me conseguir lembrar dos lugares e de onde são as fotos. Mas perdi as pessoas. Tenho fotografias de lugares, de ambientes, mas não de pessoas. Era delas que falava o diário, das conversas, das impressões... tudo perdido.

Por outro lado, será um sinal? Eu odeio sinais. Este parece dizer muito claramente: quando voltares a Roma as pessoas terão mudado, mas a cidade das fotografias estará lá. Errado, eheheh!!! Desta vez as pessoas estarão sempre na cidade eterna porque nada destruiu a alegria que elas me fizeram sentir e viver, porque fui eu que as procurei e aceitei, porque a cidade foi minha e nossa, não apenas delas...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Outros naufrágios


Mas onde eu queria mesmo naufragar era numa praia de areia branca e luminosa, com um mar transparente, um coktail de gelado de limão e champanhe no fim da tarde, e duas mãos simpáticas para me porem protector solar de quando em quando. E um livro (podia ser uma daquelas coisas antigas do Max du Veuzit...), e o mp3...

Mas não... acho que sou a única alma nesta biblioteca. O que até sabe muito bem.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Naufrágio


Raramente sonho. Os meus sonos costumam ser descansados. Um sono só. É muito bom.

Mas hoje sonhei com naufrágios, com navios-fantasma, desertos de marinheiros e outras criaturas do mar. Acordei com a impressão de um suave marulhar, comigo em cima de uma prancha de madeira, meia desmaiada, num alto mar cinzento, com o céu carregado, sem praia nem rochedos à vista.

Quis voltar a dormir e a sonhar para ver se morria ali mesmo, gelada, afogada, comida por tubarões... ou se a história tinha um final feliz nos braços de um capitão de navio pirata. Não consegui. Ouvi ao longe um marulhar, é verdade, mas era o tambor da máquina de lavar-roupa que tinha programado para as seis e meis da manhã... é tão desconcertante descobrir o fundamento vulgar de sonhos tão inflamados!

Andorinhas


A minha garagem foi invadida há uns três meses. Ainda tentei fechar a porta, mas elas fizeram tanto barulho e foram tão insistentes que eu desisti. Este já é o segundo ninho, atrasado em relação às outras andorinhas que já partiram. Estou ansiosa para ver como é que eles aprendem a voar!


terça-feira, 28 de julho de 2009

De ciranda


O Luís Miguel chamou-me "horaciana" quando lhe contei que tinha de regar a horta do meu pai. Este ano está mais pequena mas tem alho francês, feijão-verde, corgetes, couves, repolhos, tomates, pimentos, pimentos de Padrón, abóboras, espinafres... e girassóis. Acho que não deixei nada de fora. Gosto imenso daquela horta.

Mas, horaciana???
Habibi, uma horaciana não teria nadado meia-hora na piscina, não teria passado vinte minutos ao sol, deitada na relva, e regado a horta de bikini. Vou-te explicar isso quando almoçarmos. Ou chamaste-me horaciana por causa daquela coisa do exegi monumentum aere perenius? Hummm???


És uma chata

Recado nº 1
Detesto que me perguntem "tudo bem"? Pior ainda "novidades"? Dois segundos a seguir à primeira pergunta, que costuma ser o tempo que me dão, não dá para responder que estou com um humor de cão molhado e, quando a novidades, as minhas não interessam a ninguém.
Conclusão: és uma chata.


Recado nº 2
Odeio conversas sem sentido ao telefone, daquelas que apenas servem para marcar uma dedicação mínima a um compromisso. Tudo bem, beijo... pois, quero lá saber...
Conclusão: vais ficar cada vez mais chata.

Orienta-te, menina. Ou vais fazer do mês de Agosto um inferno.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Os meus meninos...

André: Vou levar a bola e podemos jogar com ela dentro de água!
Telmo: Acho que não podemos. Sissi (perguntou o Telmo à mãe do André), o André disse que podíamos jogar à bola dentro de água! Podemos?
Sissi: OH! (com impaciência e um forte encolher de ombros).
Telmo: A tua mãe disse que não podíamos.
André: Ela não disse isso. Só disse OH!
Telmo: Pois! E sabes o que isso significa? Que tu estás maluquinho da cabeça!

Ainda me estou a rir. O fim-de-semana foi tão bom... que até dói.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

De que falas tu?


Costumo ser indulgente com os meus caprichos. Às vezes sai-me cara tanta indulgência. Não estou a falar de custos monetários, como é óbvio, embora tenha os meus momentos de absoluta extravagância, mas de outros custos, de empenhamento de tempo e de alma.

Faz-me muito bem bater de caras com a impossibilidade. Quero. Pois, mas não podes. Ponto final. Parece tão fácil, não parece? Parece, mas eu tenho um coração sem memória e sem proibições. Como resultado deste comportamento inconsequente, há-de bater na parede muitas vezes e um dia há-de desistir. Bem, não será "desistir": há-de conformar-se, é mais correcto. Mas depois não lhe abram grades, nem frestas, nem portinholas, nem lhe dêem espaço. Não respondo por ele. Há-de acabar bêbado numa sarjeta, o palerma.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Chove...


Acordei às seis horas da manhã... nem queria acreditar. Li um bocado daquela coisa em americano (aquilo não é inglês...) até tocar o despertador. Levantei a persiana e vi um céu escuro, mas ainda não chovia. Agora são estas horas e chove tanto, tanto, tanto, que não vou ter de regar as laranjeiras até ao Inverno.

Mas o dia foi simpático. Almocei comida chinesa, encontrei um artigo engraçado sobre umas coisas barrocas, conversei, apanhei três molhas... estive com a Tá e vim para casa já tarde. Tomei um belo banho quente, a ver se aquecia (imaginem...), fiz umas tostas de salmão e mozarela, com uma Abadia, mais um pêssego e três fatias de pão de ló de leite (demorei três dias a comer um bolo que levou sete ovos... isto não vai dar bom resultado...) E vi a Samantha who na Rtp2.

Não sei se trabalhe. Acho que não. Não vou agora estragar o dia...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Dedicatória


Hoje recebi um livro. Quando cheguei, já estava em cima da minha secretária no gabinete da Biblioteca. Conheço-o muito bem. Li-o algumas vezes antes de ser impresso.

Mas o que tem de melhor é a dedicatória. Uma das mais bonitas que já li. Que bom!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Solo


O teatro não estava cheio. Longe disso. Pena. Foi um espectáculo soberbo este Solo, com coreografia e interpretação de Philippe Decouflé, da Compagnie DCA. Não sabia que se podia dançar com tantas partes do corpo ou multiplicar o mesmo corpo em palco dando a ideia súbita de uma multidão em sicronia.
"A dúvida habita-me" era o mote de Philippe. Mote e motor de criação artística desde sempre.

Proponho-vos que vejam o vídeo, uma interpretação espantosa do Le petit bal perdu, de Bourvil. Philippe interpretou este mesmo tema em palco, a solo. A Garance e a Louise, a quem é dedicado, são as duas filhas dele.


O refrão:
Non je ne me souviens plus
du nom du bal perdu.
Ce dont je me souviens
C'est de sont ces amoreux
Qui ne regardaient rien autour d'eux.




segunda-feira, 13 de julho de 2009

Bolinhos da sorte

Em Setembro, quando estive no Cape Cod com o Pe. Gilbert, houve uma noite mais complicada e fomos jantar tardíssimo a um restaurante chinês em Falmouth. Gosto de comida chinesa: sabe-me sempre ao mesmo em todo o lado. Conversámos imenso nessa noite. Bebemos chá de jasmim e abrimos apenas o meu bolinho da sorte. No one is standing in your way anymore, time to moving forward. Achámos justo e acertado.

Já em casa, duas semanas depois, é que comi e abri o segundo bolinho: Appearance can be deceiving. Remember endurance makes gold. Falei com o Pe. Gilbert e novamente achámos justo... e acertado.

Passados 4 meses o Pe. Gilbert morreu de ataque cardíaco. Hoje, acho que a minha visita, naqueles cinco dias, foi estranha. Dormi no quarto onde dormia e morreu a minha tia, corri os livros dela, toquei-lhe nas roupas, passeei no farol onde ela gostava de ir, apanhei das flores que ela tinha plantado... mas não tive, nem terei nunca, a gentileza e a paciência que ela tinha.
Agora pergunto-me: custava muito?

E tudo isto porque as profecias dos bolinhos da sorte estão presos no meu segundo écran do computador. Ainda hoje.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Queria ver o mar

Como afirma Daniel-Rops, em L´Église de la cathédrale et de la croisade, “la coutume d’aller, par grandes masses, en un lieu de culte vénéré, qu’on retrouve dans toutes les religions et sous toutes les latitudes, était aussi vieille que l’Église” (1952:86)... há duas horas que parei aqui... e já escrevi isto em 1999...

Talvez sejam as notas de Satie que agora se demoram no prélude de la porte héroique du ciel... porte héroique du ciel? Basicamente é isso... vamos lá, vamos lá a duas horas de puro heroísmo, que a mim só me apetecia partir outra vez, não sei para onde, nem por quanto tempo.

Inércia


Quero ser estátua, definitivamente. Não quero sentir, não quero mexer-me, não quero falar. Viver tanto todos os dias cansa-me.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Retrato do meu quintal

As minhas laranjeiras estão a ser atacadas por uma praga de conchinhas pretas. As roseiras estão a precisar de descanso (não param de dar rosas há mais de dois meses e vão continuar até Outubro... ). O chão está coberto de ameixas, pequeninas, quase selvagens, mas ainda há muitas nas árvores. A erva está seca. As cinco couves com quase dois metros de altura estão a encher-me o quintal de sementes. Há pelo menos cinco rotas de formigueiros a atravessá-lo. A cidreira já devia ter sido apanhada e posta a secar. As hortênsias são cor-de-rosa. As rosas também, mas foi a minha avó que as plantou há mais de 20 anos. O tanque está cheio de água, com bichinhos a rabiar.
... estou mesmo a precisar de uns dias de praia.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Ainda o esporão

Há um senhor, o sr. Crispim, perto de Santa Comba Dão, que é um homem bom e sábio. Graças a ele consegui andar bem por Roma durante tanto tempo.

Agora o outro lado: chegou a marcação da consulta de ortopedia no hospital. Hoje. Quatro meses depois. Com hora marcada e indicação de que me tinha de apresentar 15m antes e com os devidos documentos. Lá fui, apesar de já não doer nem ter esporão no calcanhar. Para me certificar que estava tudo bem.
Esperei hora e meia. O médico nem sequer apareceu, nem a funcionária me soube dizer onde estava. Numa intervenção cirúrgica mais demorada? É possível. Mas ninguém sabia. De dependesse dele é possível que já nem conseguisse andar e tivesse de esperar mais um ano por uma operação da qual me seria doloroso recuperar.

Há quatro meses atrás esperei meia hora que o sr. Crispim me visse o pé e mais dez minutos para convencê-lo (ao pé e ao esporão) de que ser galinha não era boa ideia. Poupei bastante ao Estado. Poupei-me a mim muito sofrimento. Por que é que o sr. Crispim não trabalha num hospital?

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Jaime, je t'aime.

- Jaime, anda calçar as sandálias que a relva está a ficar húmida. Queres sentar-te na escada ou no sofá?
- Não quero calçar-me.
- Isso não está em discussão, meu amor. Queres sentar-te no sofá ou na escada para te poder calçar?
- No sofá.
- És um querido. Tens umas sandálias muito bonitas, sabias?
- Os teus sapatos também são bonitos.

Gosto tanto de ti, Jaiminho. Por favor, não cresças tão depressa.

Maiorca II

Acordei de noite a pensar em Maiorca, nas minhas últimas férias em Palma, num passeio delicioso a Valldemossa, o amarelo dos fenos, o azul do Mediterrâneo e os troncos retorcidos das oliveiras.
Chopin e George Sand passaram o inverno de 1938 em Maiorca, onde o compositor completou os seus Prelúdios. Muitas coisas batem certo, agora.

sábado, 4 de julho de 2009

Maiorca


Achei estranho o nome da coreografia do Paulo Ribeiro. Chopin lembra-me Varsóvia, frio intenso e chuva. Maiorca lembra-me a cor ocre do calor e o azul do Mediterrâneo. Depois achei que talvez fizesse sentido. Nas notas de piano que saíam dos dedos do Pedro Burmester, solitárias e melancólicas a maior parte dos prelúdios, misturava-se a exuberância dos gestos no palco.

Reconheci num e noutro lance os gestos da minha alma quando segue as notas do piano. Surpreendi-me com a beleza de um e outro passo. Nos momentos desiguais da dança compensava a execução brilhante.

Gostei, muito.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Just another day



Acordei tarde, com dor de cabeça, depois de sonhos estranhos, aqueles sonhos que só acontecem quando nos devíamos já ter levantado há pelo menos duas horas. De qualquer forma, são sempre muito interessantes pelo que guardam da memória e apresentam de intuição.

Lavei a louça do jantar de ontem, de que pouco me lembro. Resolvi matar saudades de uma Abadia fresquinha, deliciosa, e adormeci no sofá. Entretanto, à minha maneira super-bem-educada, devo ter resmungado sobre o tarde das horas e mandado embora quem lá estava...

Não me apeteceu pequeno-almoço. Mordi umas ameixas do quintal, verti um copo de leite na banca, verti o detergente da roupa no chão, fui almoçar na casa da minha mãe, e... verti o café na mesa e no chão quando saí para tomá-lo. Ainda estou a tentar ficar sossegada a ver se passa esta má onda ou se as minhas mãos ficam firmes ou a minha alma menos inquieta.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Regresso

A casa. Senti falta deste écran de computador, enorme... dos beijos dos meus pequeninos; de um bom abraço, demorado. De pouco mais. Roubei um litro de leite à minha mãe e alguma fruta. Vou ter de cozinhar???

Vou demorar tempo a pôr tudo em ordem. Eu e a minha ordem. Consegui escapar-lhe dois meses. Agora está aqui, à minha espera, e ainda bem. Mas eu tenho memórias de dias felizes, que se hão-de prolongar no tempo. Existem aqui, in imo corde et anima.