terça-feira, 1 de abril de 2008

Crónicas do mosteiro

Está frio. Sentei-me nos degraus do claustro junto da fonte. Rezámos a sexta antes da refeição, ainda há pouco tempo. Na sala do capítulo a respiração prende-se, parece que gela ao sair da garganta, e na igreja os salmos e os hinos não passam da grade, tobando pelo chão empedrado. Demorei o olhar na Virgem e no Menino, mas emoreci na oração e no alento.
Gostava que hoje fosse dia de fornada de queijinhos d'ouro para a condessa, que os encomenda às dúzias. Pelo menos haveria forno aceso. Tenho pouco tempo para estar aqui sentada ao sol branco do início de março. Fecho os olhos, prendo o hábito debaixo de mim e recebo o calor na cara, nas mãos, nos pés. Aqueço devagar, mas aqueço ainda assim.
O corpo descontrai, encosta-se mais ao muro, parece mais pesado. Lassidão. O mosteiro preenche toda a alma e quase todo o corpo. Nesta luz quente do sol vislumbro a parte que desconheço.

2 comentários:

Glaukwpis disse...

É fantástica a sensação de sentir frio ao ler, mesmo com o sol que raia na varanda do escritório. Para não falar do alcatrão que já começa a ferver.
*

Anónimo disse...

Eu sei o que é isso. Estar o tempo quente, mas ter os pés frios.
Cinco beijos também para ti, Glau.