sexta-feira, 11 de abril de 2008

Chama-se Emília

Ontem consegui tirar a Emília de casa. Fomos passear um pouco, fazer umas compras e lanchar. Ela não queria, mas insisti.

A Emília vê novelas praticamente o dia inteiro. Acho que só não as segue de manhã. Mas, depois do almoço, tem a televisão sempre ligada. Vai passando a ferro, cuidando das coisas, mas sempre mais atenta às histórias.

Então, Emília, também há vida fora da televisão, vamos sair, vamos. Eu sei que há vida, mas não é assim, como na televisão. Aqui, nunca sei quem são os maus ou quem são os bons, que tudo se esconde, prefiro as novelas que me contam tudo.
Mas eu sei qual é a principal razão do seu gosto, porque já vi a Emília chorar com os beijos, com os amores e as ternuras dos seus favoritos. É como se aquele “amo-te” fosse para ela, como se aquele abraço lhe envolvesse o corpo, como se aqueles dramas, aquelas heroicidades, fossem dela também.

Diríamos que a Emília não tem vida e toma para ela as vidas das novelas. Mas eu já não sei.

11 comentários:

mcdesign disse...

Tb tenho uma Emília, é a amiga imaginária do meu esquiso...

Anónimo disse...

Esquilo?

Glaukwpis disse...

Esquisofrénico!

Anónimo disse...

Preferia que fosse amiga do teu esquilo...
:) :) :)

Glaukwpis disse...

Também eu, pois naquela 1h de Explica, borro-me todo!

Anónimo disse...

Mas ele chama-lhe Emília, mesmo?

cereja disse...

Vive-se por procuração.
Para quem vive a Vida completa (com as dores e as alegrias normais) choca um tanto. E choca porque o que dali se vê é uma solidão enorme. Mas, por vezes solidão procurada. São pessoas que também não procuram os outros, no ecrã as coisas até 'perecem' a sério, mas elas sabem que podem desligar aquilo.
E a Vida não se desliga, tem de se enfrentar.

cereja disse...

Olha, uma gralha que fazia sentido!!!
Queria dizer «parecem» e não «perecem» é claro!!!
É que de facto, no ecrã não perecem, julga-se que são eternas!!!

Anónimo disse...

Quando as cenas são mais complicadas, a Emília muda de canal. Para infelicidade já basta a vida, diz ela.

Antes assim, há quem se torna dependente de outras coisas.

A Bela e o Monstro disse...

Meu avô dizia que as telenovelas não prestavam. Ele não concebia que os actores entrassem em novelas diferentes com papéis diferentes. "Esta namora com um, depois casa com o outro. Que vida é esta?". :-)

Anónimo disse...

O ponto de vista do teu avô parece-me bem pertinente, Dona Diotima!