Ontem consegui tirar a Emília de casa. Fomos passear um pouco, fazer umas compras e lanchar. Ela não queria, mas insisti.
A Emília vê novelas praticamente o dia inteiro. Acho que só não as segue de manhã. Mas, depois do almoço, tem a televisão sempre ligada. Vai passando a ferro, cuidando das coisas, mas sempre mais atenta às histórias.
Então, Emília, também há vida fora da televisão, vamos sair, vamos. Eu sei que há vida, mas não é assim, como na televisão. Aqui, nunca sei quem são os maus ou quem são os bons, que tudo se esconde, prefiro as novelas que me contam tudo.
Mas eu sei qual é a principal razão do seu gosto, porque já vi a Emília chorar com os beijos, com os amores e as ternuras dos seus favoritos. É como se aquele “amo-te” fosse para ela, como se aquele abraço lhe envolvesse o corpo, como se aqueles dramas, aquelas heroicidades, fossem dela também.
Diríamos que a Emília não tem vida e toma para ela as vidas das novelas. Mas eu já não sei.