Ontem consegui tirar a Emília de casa. Fomos passear um pouco, fazer umas compras e lanchar. Ela não queria, mas insisti.
A Emília vê novelas praticamente o dia inteiro. Acho que só não as segue de manhã. Mas, depois do almoço, tem a televisão sempre ligada. Vai passando a ferro, cuidando das coisas, mas sempre mais atenta às histórias.
Então, Emília, também há vida fora da televisão, vamos sair, vamos. Eu sei que há vida, mas não é assim, como na televisão. Aqui, nunca sei quem são os maus ou quem são os bons, que tudo se esconde, prefiro as novelas que me contam tudo.
Mas eu sei qual é a principal razão do seu gosto, porque já vi a Emília chorar com os beijos, com os amores e as ternuras dos seus favoritos. É como se aquele “amo-te” fosse para ela, como se aquele abraço lhe envolvesse o corpo, como se aqueles dramas, aquelas heroicidades, fossem dela também.
Diríamos que a Emília não tem vida e toma para ela as vidas das novelas. Mas eu já não sei.
11 comentários:
Tb tenho uma Emília, é a amiga imaginária do meu esquiso...
Esquilo?
Esquisofrénico!
Preferia que fosse amiga do teu esquilo...
:) :) :)
Também eu, pois naquela 1h de Explica, borro-me todo!
Mas ele chama-lhe Emília, mesmo?
Vive-se por procuração.
Para quem vive a Vida completa (com as dores e as alegrias normais) choca um tanto. E choca porque o que dali se vê é uma solidão enorme. Mas, por vezes solidão procurada. São pessoas que também não procuram os outros, no ecrã as coisas até 'perecem' a sério, mas elas sabem que podem desligar aquilo.
E a Vida não se desliga, tem de se enfrentar.
Olha, uma gralha que fazia sentido!!!
Queria dizer «parecem» e não «perecem» é claro!!!
É que de facto, no ecrã não perecem, julga-se que são eternas!!!
Quando as cenas são mais complicadas, a Emília muda de canal. Para infelicidade já basta a vida, diz ela.
Antes assim, há quem se torna dependente de outras coisas.
Meu avô dizia que as telenovelas não prestavam. Ele não concebia que os actores entrassem em novelas diferentes com papéis diferentes. "Esta namora com um, depois casa com o outro. Que vida é esta?". :-)
O ponto de vista do teu avô parece-me bem pertinente, Dona Diotima!
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