domingo, 30 de agosto de 2009

Desgovernos de S. Mateus


Matterhorn.

Matterhorn diz-vos, caríssimos amigos, alguma coisa? Então façam tudo por tudo para que vos não diga nunca mesmo nada... a não ser que gostem da sensação de absoluta desgoverno que nos toma conta do corpo e da mente, do fechar dos olhos compulsivamente e do empurrar das pernas e do agarrar da barra de ferro como se fosse a única coisa que nos separasse da diluição total.

Ainda tentei imaginar que fazia uma viagem no espaço e oferecer tanto sofrimento pelos doentinhos, mas acho que preferi ver Marte no céu, como esteve nas últimas noites, e duvido que a dor auto-infligida sem outros bons propósitos possa servir para redimir o que quer que seja.

De qualquer forma isto foi a prova de que a minha memória tem uma duração de 15 anos, que deve ter sido quando andei naquela coisa (chamava-se Ice) a última vez e agora, agora, já me lembro como afirmei que seria a última vez. O que me vale é que daqui a 15 anos já estou com demasiada idade para me deixarem sequer comprar bilhete.

Quando cheguei ao parque dos concertos nem conseguia levantar os braços para dançar o Lay all your love on me e estava profundamente enjoada. Devia era ter comido meia-dúzia de farturas e passeado com o Jaime e Anita no carrossel...

sábado, 29 de agosto de 2009

Glorious nigth with the Basterds


Maria João, 16h, sms: Tarentino? Hoje? Copos?
Ciranda: Vamos.

Hamburguer e coca-cola (rápido e eficiente, mais uma tarte de maçã a escaldar...)
Inglorious Basterds (Tarentino só deixou vivos Aldo Raine, o magnífico Hans Landa e outro dos Basterds... e acabou com a guerra mais cedo...)
Irish Bar, duas Guinness (é bom começar a treinar para Dublin...) e boa música.

É. Foi booomm. Tudo bom.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Às vezes


Às vezes pára-se-me a vontade de escrever, de pensar, de existir.
Queria ser planta, um hibisco enorme, com flores vermelhas e ter como único anseio o sol e a chuva.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Rush, o som do coração



Ontem a Niniane fez pipocas, eu e a Berenice comemos tudo a ver August Rush. Foi um belo filme de verão, com boa banda sonora, que me enterneceu. Depois de ter passado a tarde a tentar acabar um trabalho, sem vontade nenhuma, nem inspiração, soube bem relaxar, sem grandes complicações de enredo nem torturas de interpretação.

Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=44nN72E5JDg

Fica a sugestão para uma tarde de domingo, no inverno, com um chá e biscoitos.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Exterminadora II


Que lindas! Volteavam as duas, zumbindo de gosto. Duas mosquinhas, pequeninas, jeitosinhas... brincavam, pousavam, uma por cima, outra por baixo, na manteiga da minha torrada, reatavam o voo e quase lhes ouvia os gritinhos nos loopings sobre a banca, numa sarabanda de fugas e corridas pela cozinha fora, deixando patinhas de gordura e de que sei lá mais o quê por todo o lado.

Vi tudo vermelho. Fiquei tresloucada.
Pah... Pah...

Ide fazer porcarias para o canto dos infernos. Filhas da mãe.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O preço da vergonha


Ontem o Vítor morreu, uma morte triste e desvalida depois de muitos meses de sofrimento. Ninguém brinca com um cancro, mesmo que seja em partes mais íntimas e se tenha vergonha de dizer ao médico e ouvir a nossa vida comentada na rua do café a poucos metros da porta de casa.

Morreu da vergonha. Por muito que isso nos pareça um espelho da ignorância e de preconceitos sem sentido nos nossos tempos. A uma vida sem muita luz seguiu-se uma morte dolorosa.

Berenice, acho que tudo está relacionado.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Exterminadora I


Quando as andorinhas cresceram e começaram a voar fui à garagem e dei-lhes grande admoestação: que fossem à vida, que a temperatura andava nos 35 graus, que as noites estavam amenas e que eu queria limpar a garagem de uma vez por todas. Foi o grande o alarido. Alarido é a palavra certa... nunca pensei ter um bando de andorinhas a reclamar comigo. Já estão avisadas: no próximo ano imigrem mais cedo porque vão ter de procurar casa nova. Ao menos os gatos têm um caixote de areia...


Depois foram as vespas. Já viste aquele ninho que tens ali debaixo da telha, filha? Aquilo são vespas, papá? Eram. Nos meus jantarinhos nocturnos nunca incomodaram, mas de dia começaram a rondar ameaçadoramente à minha volta. Queriam beber do meu café, comer da minha torrada, cheirar-me os cabelos, tirar-me o pólen... e o ninho ia crescendo. Deixei de ser senhora do meu pátio e instalou-se a desconfiança. Fui cobarde, eu sei. Esperei pela coberta da noite... no fim de contas elas eram mais de vinte. Apanhei-as a sono solto, enquanto sonhavam com os meus amores-perfeitos, hibiscos, rosas e hortênsias e congeminavam forma de me arrastar para o interior dos favos.


Pelo menos este ano não tive um carreiro de formigas a atravessar a relva, nem lagartos a apreciar a bancada da cozinha. Só mesmo moscas.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Queda



A minha avó Rosinha morreu com quase cem anos.
Para além de ter sido das mulheres mais bonitas da região tinha um coração bom, uma alma doce e uma delicadeza extraordinária. Quando zumbia à volta dela, eu e mais a dezena e meia de primos e manas que tenho, apenas me lembro de lhe ouvir um sussurrado está queda, menina, está queda...

Quando tenho ideias terríveis a germinar na cabeça, que me desinquietam e atormentam, ainda hoje digo para mim mesma está queda, Ciranda, está queda. Não costuma resultar, mas a intenção é sincera e o esforço é louvável...

E... por falar em vespeiro... ontem dei cabo dele. O pátio é meu.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O meu querido mês de Agosto


Já devia ter acabado o documento que tinha em mãos. É... não acabei. Apesar dos estores corridos o escritório ficou quente demais e balbucio entre o Barbosa Machado, a carta do Marquês de Minas a D. Pedro II, no caminho de Liorne para Roma, o google e a porbase. É muito movimento junto depois de um almoço de feijoada e uma mini fresquinha. Enganei-me no tupperware que descongelei...

Pode ser que à noite continue. E amanhã, minha menina, vais para a biblioteca, comes uma sanduiche ao meio do dia mais um sumo de frutos vermelhos. Se tudo correr bem, hás-de merecer um mergulho na piscina e mais alguma coisita.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Vidros


Gosto de estar perto de coisas bonitas.
Na 5ª feira diverti-me a limpar os vidros da exposição que seria inaugurada com pompa no dia seguinte com a presença do senhor Presidente da República. Foi muito interessante perceber como se tratava apenas da parte final da montagem da exposição e que todo o trabalho principal fora começado antes, muitos meses antes.

Como é que eu fui parar à limpeza dos vidros? Coisas...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Quero o meu primeiro beijo...



Hoje vi o meu primeiro beijo.

Continua elegante, moreno, bonito que baste, nada de estonteante. Cumprimentei-o com dois sorrisos, um abraço.

Ainda te lembras, beijo? De como fugia de ti, de como as palavras me fugiam, de como o chão fugia debaixo dos meus pés e os teus quinze dias de férias na aldeia eram o meu maior tormento?
Esta noite, igualzinha à outra, queria voltar a ter dezasseis anos e cabelo loiro. E outro primeiro beijo.

Para o Glau



Há amigos a quem podemos telefonar cinco horas antes e cancelar um jantar combinado há quatro dias. Amanhã, sim, amanhã. Fica para amanhã. Vamos experimentar umas bebidas giras, deitar conversa fora e comer bolo de chocolate com gelado.

Hoje, bem... sou mesmo tia...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Gosto de ti

Quando queremos estar bem, então, estamos bem, apesar da temperatura e da dor de cabeça. E lá fui para a biblioteca. E lá fui às compras. E lá me enfiei na piscina, num mergulho só.

Mas o Jaime também queria estar bem. Também quero piscina! Fofinho, passaste aqui a tarde toda, deixa-me nadar em paz... Também quero pão com chouriça! Abençoado, eu também, que a manteiga derreteu. Quero ir contigo para tua casa! Não queres nada... Quero! Ok. Calça-te e veste-te.

E veio. E sentou-se à mesa da cozinha, enquanto eu cozinhava e bebia uma cerveja, com as suas batatas fritas e uma caneca de água. Toalha linda na mesa, pratos brancos e guardanapos vermelhos, que ele ajudou a pôr. Ementa: salada de tomate, revueltos com feijão verde, tudo do quintal do avô, presunto ligeiramente tostado com um quadradinho de feta. Não gosto disto amarelo! Gostas, pois, experimenta. Não gosto disto branco! Sim, é possível que não, dá cá que eu como. Não gosto de tomate... se comeres os ovos eu como o teu tomate. Gosto muito de presunto! Pois, querido, já percebi. Quero da tua cerveja! Queres o quê? Bebe aguinha, bebe. Quero ir à casa de banho! Depois de comeres tudo. Estou apertadinho! Ok... Vai comigo! Está bem, meu amor.

E agora? Queres pêssego? Não. Não? Mas comeu metade, aos gomos. E acabou as batatas fritas e comeu dois quadrados de chocolate, sentado ao meu lado, enquanto eu lavava a louça e arrumava a cozinha. Regámos as laranjeiras, as roseiras, a figueira e as hortênsias do quintal, e os vasos e a relva do pátio.

Não se calou um minuto que fosse, perguntou tudo o que lhe apeteceu, não quis ver notícias... nem bonecos... e, no fim, disse obrigado, gostei muito. Vamos à minha mamã? Vamos, meu querido, que daqui a bocadinho desabo no sofá.

O Jaime, meu afilhado, só faz quatro anos em Novembro. Hoje, foi a minha melhor companhia. Fez-me sorrir, falar com doçura, preparar um bom jantar e anoitecer o dia mais quente do ano com o coração derretido com tanto amor.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Querem falar de solidão?

Ouvi a notícia dos dispares num ginásio nos Estados Unidos e depois ouvi um excerto da carta que o homo-suicida deixou. Pareceu-me ter percebido que ninguém gostava dele, que não conseguia ter uma relação com alguém. Não sei se quero saber mais do assunto.
Ontem a minha avó contava-me que há dias em que se sente tremendamente infeliz e sozinha. Eu também. A maior parte das pessoas sente-se assim de quando em quando ou com mais frequência ainda ou até quase sempre. Quando isso acontece, a avó reza, eu como chocolates e bolachas, vejo séries na televisão e vou andar a pé. Ou fico a cismar na minha profunda infelicidade.
Patologias. Patologias que matam. Furiosamente. Temos uma sociedade cada vez mais fechada e há grupos de risco mais acentuado. Há quem não aguente e tome comprimidos, se mande da varanda abaixo ou para debaixo do comboio. Querer arrastar outros consigo, outros que não estão sozinhos ou vão ao ginásio para quebrar essa solidão, é patologia que a comunicação social vai cobrindo e, sem querer, vai incentivando.
Tenho pena de quem é apanhado neste torvelinho, de quem possivelmente fez esforço para vencer a fraqueza diária e para estar de forma razoável na vida em que viu metido e talvez não tenha escolhido. Estou solidária com quem espera todas as manhãs a ver se o dia vai ser melhor, com quem luta com terríveis depressões de que nem entende o motivo e se vê afundar numa angústia destrutiva. Estou solidária com quem reage, com quem grita a sua injustiça no centro de uma cidade, com quem reclama os seus direitos, com quem não fica quieto e incomoda, com quem faz greve de fome para dizer que não quer estar sozinho. Estou mais solidária ainda com quem olha para o lado e vê também a solidão dos outros.
Este foi mais um que matou e matou-se. Sim, e a televisão mostrou e todos viram e ficaram a saber que se sentia muito sozinho e que a culpa era do mundo. Espero que depois de morto lhe tenha feito bem ao ego... e que os outros quatro, mortos ao acaso, se tenham juntado para lhe dar uma valentíssima carga de porrada.
Eu faço um esforço enorme para me manter lúcida. Acreditem. Por isso não tenho paciência.

Dúvidas









Estava aqui a ler um texto das exéquias de D. João V, a ler o programa do Centro de História Religiosa da UCP, que anuncia um colóquio na BN sobre a expulsão dos jesuítas e perguntei-me a mim mesma: teria D. João V deixado crescer uma personagem como o Marquês de Pombal? Bem, D. José também não teve sorte... cai-lhe um terramoto, sofre (inventa-se?) um atentado, tem o Sebastião José de Carvalho à perna...

Volto a D. João V. É um rei estranhamente contemporâneo e artisticamente efémero (trocadilho que se não se esqueceu da basílica de Mafra nem de S. Roque, etc...).

Nota: pesquisei as imagens no google e são retiradas de páginas várias... que não apontei.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Lay, lady, lay

Lay, lady, lay, lay across my big brass bed... e sorrio quando ouço as primeiras notas. Continuo a caminhar, agarrando as alças da mochila, sentindo o céu tão azul e as buganvílias coloridas, cor de sangue. Whatever colors you have in your mind I'll show them to you and you'll see them shine...
Não importa se esta rua atravessa a aldeia, vendo a serra ao longe, ou deambula pelo campo dei fiori. And you're the best thing that he's ever seen... talvez desenhe rotas no verde do mar. Why wait any longer for the world to begin...

Lay, lady, lay, lay across my big brass bed, stay, lady, stay, stay while the night is still ahead, I long to see you in the morning light, I long to reach for you in the night, stay, lady, stay, stay while the night is still ahead...

Há demasiada alegria na memória para que eu ceda à melancolia. Mas já não tenho onde arrumar a saudade...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Tenho duas filhas



Na segunda-feira, quando vinha no comboio, aconteceu uma coisa aborrecida mas que acabou por se tornar um exercício estranho e engraçado. No Oriente, entrou um senhor que ocupou o lugar ao meu lado. Não se calou até eu descer, mais de três horas depois, e deve ter ficado calado enquanto eu adormeci, pouco mais de meia hora, esgotada, com princípios de enxaqueca, com vontade de lhe lançar um terrífico "deslargue, homem", capaz de assustar fantasmas. Achava-se culto e elegante... que D. Pedro mandara perseguir os conselheiros que tinham morto a Rainha Santa Isabel, arrancando-lhes o coração pelo peito... que gostava muito da Camel e da Timberland... Respondi-lhe que de amante a santa vai só um passo, mesmo que tenha de viajar para trás no tempo e conseguir um novo milagre das rosas, e apeteceu-me dizer-lhe que metesse os sapatos onde ele achasse melhor...

Achou por bem aborrecer-me com insinuações sobre a minha elegante forma de vestir, sobre o meu penteado, moderno e prático, sobre a minha incrível forma física (?), sobre a minha inteligência e simpatia (??? eu? euzinha?), que, com toda a certeza, o meu marido devia reconhecer todos os dias...

Às tantas, resolvi divertir-me, já que o comboio ia cheio, sempre com gente a entrar e a sair e não queria problemas com o lugar de ninguém. E inventei uma vida.
O que é que eu fazia? Nada, com a graça de Deus. Tinha feito um curso de economia e gestão de empresas mas, depois de cinco anos numa multinacional, voltara a estudar relações internacionais, e agora tinha-me dedicado mais à vida de família. Fazia voluntariado temporário em ong.s, sobretudo em cenários de guerra.
Quanto ao meu marido, que sim, que todos os dias de manhã me beijava e me dizia que eu era a mulher mais bonita do mundo. O meu marido era um homem absolutamente fantástico, bonito, com um sorriso do tamanho do mundo, um coração ainda maior, generoso, inteligente, culto, meigo e divertido. Não lhe disse qual era profissão dele... a bem dizer, com tantas qualidades, nem pensei muito nisso. Mas, acho que gostaria de tê-lo bem perto, todos os dias. In progress.
Filhos? Claro que sim, um menino e duas meninas, a crescerem, bem comportados e responsáveis. Que eu era uma mãe como não havia outra. E por aí adiante... que tínhamos um jardim, um cão e um gato...

Até que me cansei. Ele não. Continuou a falar, não sei de quê. Depois ri-me e pensei, arre, mulher, que trabalheira de viagem e de vida que tu foste arranjar...

E ri-me mais ainda quando pensei na trabalheira de vida ainda maior que tive. Mas nessa ele não iria acreditar.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

BN

Se eu vivesse em Lisboa passaria na Biblioteca Nacional a maior parte dos meus dias. E, aliás, quando mais tempo passo fora do país, mais gosto da BN. Então em Agosto, apesar do horário mais reduzido (e não é tempo de mandar os investigadores beber uma cervejinha às 17.30 para sua própria sanidade mental...?), ainda é melhor.

Mas ainda é melhor poder ir almoçar com amigos, a Maria (a minha estudante de fado, alemã, em Oxford...) e o Gerardo (de quando o sol brilhava em Roma e nos encontrávamos perto da Gregoriana). A parte de tarde do trabalho na BN já foi à vida, e muito bem.