terça-feira, 20 de maio de 2008

Revisitação

A leitura contínua e repetida do Memorial do Convento a que me tenho submetido no último mês tem-me feito pensar muito.

Estou a ver D. João V esparramado na alcatifa a montar as peças da basílica de S. Pedro com ideias a nascerem-lhe em catadupa. Por acaso conheço o processo. Eu própria gosto de puzzles e tenho sempre um bloco de apontamentos ao lado para registar as melhores. Adiante. Estou então a ver D. João V a pôr peças em cima de peças, ou mandar os criados fazê-lo, se também mandou meio reino para Mafra... ou, mais tarde, a ver os filhotes de D. Maria Ana Josefa, com cara de percevejo, os filhos, não a rainha, coitada, que praticamente pariu também um mosteiro, a entreteter a corte empoada, dourada e pintada de carmesim.
Era um rei fadado para ser arquitecto, o nosso D. João V. Se não fosse Ludovice teríamos outra basílica de S. Pedro em Mafra, uma maravilha de fazer inveja ao Papa. Aquilo é que foi fazer frades, que de treze para trezentos é muita vocação mendicante arregimentada. Era um rei com sentido de estado. Era um rei que era o estado, ponto final. Para onde iam o ouro, as pedras preciosas, os diamantes, de Cerro Frio, da Bahia, de Minas? A culpa foi de quem não perguntou. Pelo menos não se fala nisso. Fala-se em autos de fé, mas não de perguntas incómodas ao rei que tinha o rei na barriga.
D. João V, aos vinte e dois anos, brincava com legos, e prometia conventos para ter filhos, para não morrer de doença, porque lhe apetecia.

Por favor, há sempre uma razão para tudo; revistem a casa do Sr. Engenheiro José Sócrates. Pode ser que encontrem um compartimento com pistas de carros e carris de comboio, com pontes e túneis, árvores, rios, ovelhas, casas, com todas aquelas coisas com que os meus sobrinhos gostam de brincar.

3 comentários:

Glaukwpis disse...

Bebeste!!!!! :D****

Anónimo disse...

Hoje ainda não... mas pretendo.

Glaukwpis disse...

Então vinde!!!!!!