segunda-feira, 26 de novembro de 2007

outono frio

Vai por entre as ruas estreitas e pelos pátios um fumo disperso de lareiras acesas. Cheira a frio e a lenha neste dia de sol gelado e vento agreste.

domingo, 25 de novembro de 2007

Lucidez

Hoje, pela manhã, quando o padre rezava o sermão, ouvi um miudinho rir. Ria alto, alegre, um riso bom, cantar de avezinha, ronronar de gato satisfeito. Sorri e apeteceu-me rir também. Queria que toda a assembleia risse, que o padre levantasse as mãos e convidasse também ele ao riso... única forma de louvar por um mundo louco e insano.

Into de fire

Uma série fantástica e um tema lindíssimo.

sábado, 24 de novembro de 2007

Fogo

Que farei quando tudo arde?
Sá de Miranda

Que farei no outono quando ardem
as aves e as folhas e se chove
é sobre o corpo descoberto que arde
a água do outono

Que faremos do corpo e da vontade
de o submeter ao fogo do outono
quando o corpo se queima e quando o sono
sob o rumor da chuva se desfaz

Tudo desaparece sob o fogo
tudo se queima tudo prende a sua
secura ao fogo e cada corpo vai-se

prendendo ao fogo raso
pois só pode
arder imerso quando tudo arde

Gastão Cruz, As Aves

Créditos: Ciranda

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Coisas que me espantam!

Esta notícia da preocupação dos Estados Unidos com os pistachios que Israel importa de Teerão é para levar a sério???
Será que o ditado "amigos amigos, negócios à parte", sempre tão proveitoso, não lhes dirá nada? Que diabo...

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Querer


Vou desvendar o teu corpo
Por entre as folhas de ouro
Corpo de gazela
Fugidio
Transparente
Créditos: Ciranda.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

E se desejo às vezes,
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr-do-sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Créditos: Ciranda, Alberto Caeiro.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Tempo de espera

Estou à espera.
Fiz uma cafeteira de chá e deitei-a na botija para os pés. Fui para o sofá e enrosquei-me. Onde pus eu a caneca com o chá???
Estou à espera de mais água fervente. Tenho de ter cuidado para não regar as plantas com ela...

Afogar os burrinhos

Depois desde tempo todo, não consigo levar-me a sério. Liberto-me de preconceitos, de ideias feitas, tenho apenas as certezas indispensáveis à sobrevivência diária. Quando acho que os outros fizeram um percurso semelhante, de acordo com a sua própria história, dou com os burrinhos na água.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Isso é que era uma trabalheira...

No cinema, minutos antes da sessão no início da tarde, eu e o AJ em amena cavaqueira, com os bolsos cheios de gomas. Ela passou, insinuante, parou, voltou atrás e perguntou com a ousadia de quem nos conhece aos dois há já muitos anos mas não nos fala, isso nunca.
- Vocês são namorados?
- Namorados não podemos ser.
Sorriu-se e sussurrou um que pois não, não podíamos. Enfim, mas que nos via juntos com alguma frequência, mesmo no outro dia eu a entrar no carro do AJ, a tomar café com o AJ...
- O termo técnico é mesmo "amaanntesss".
Ela arregalou os olhos, o AJ engasgou-se naquela goma preta e encheu-me a camisola de destroços. Que eu sempre fora muito brincalhona, que gostou muito de nos ver mas que tinha de ir buscar os meninos ao colégio e o marido até tarde no tribunal, ocupado com aquele caso de ciúmes entre um casal e a amante. Gaguejou seis vezes e foi embora.

Contei dois segundos, e ele sussurrou: amantes??? Dá cá as gomas, não comes mais nenhuma.
À entrada da sala, parou-me e perguntou: a ideia veio-te assim de repente? Não, meu querido, penso nisso às vezes. Até já contei à tua Maria, mas ela diz que isso passa. E quem sou eu para duvidar?

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Que música serias se não fosses água?

Que música serias se não fosses água?
Que sede serias se não fosses beijo?
Que força serias se não fosses lume?


Como tinha saudades de palavras de amor ou como a minha vida tem sido quieta, posta em silêncio.

Sadness

"Beleza e tristeza é uma redundância", por Pedro Mexia.

Fui acusada, e o termo é mesmo esse porque foi encarado como defeito terrível e culpável, de ser uma mulher triste. Óbvio que há coisas que me magoam. Para me deixarem triste é preciso que o magoar perdure. E isso é muito mau.

Mas queria falar do modo como a beleza me deixa quieta e silenciosa.

sábado, 10 de novembro de 2007

Interlude, by Morrissey and Siouxie

Who knows if it's real, or just something we're both dreaming of. What seems like an interlude now, could be the beginning of love.

Não foi, pois não? Agora sei.

http://www.youtube.com/watch?v=yjUKAETwDKg

Un año de amor

De Luz Casal.

Periodicamente tenho estas celebrações, em diferentes circunstâncias, espaços e tempos distintos. Exercícios de memória, de reflexão, de raiva, de indiferença, de dor, de satisfação.

Passou um ano. Passou um ano. Passou um ano. Continuo viva. Cada vez mais viva. Olho com pena para os estilhaços doridos de há um ano. Sento-me ao lado e acaricio aqueles olhos sem cor, toda sem cor, sem alma, sem nada. À noite afasto as arestas dos pesadelos e aconchego-a nos braços. Vigio-lhe a tristeza dos caminhos. Já foi. Já passou.

Entre mis recuerdos. Nada mais que recordações, e chega.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

"A arte mente porque é social"

"Se vou traduzir esta emoção por frases que de perto a cinjam, quanto mais de perto a cinjo, mais a dou como propriamente minha, menos, portanto, a comunico a outros. E, se não há comunicá-la a outros, é mais justo e mais fácil senti-la sem escrever."

Ou fotografá-la... se bem que nem seja arte e muito menos seja mentira.

Créditos: Ciranda.


Orfeu, meu amor.



Não olhes para trás, não olhes, que do passado nada vem que nesta hora te dê consolo, e o desejo das mãos que te apertam o colo hão-de aquecer-te também a alma. Mas primeiro o corpo, primeiro aquecer o corpo, o teu corpo, com a vontade que faz nascer em mim rios, com esta sede em que te vejo afogada, de olhos tecidos de granito, pesando palavras e gestos como se ainda presa ao tempo que foi.
Não olhes para trás, não olhes.

Créditos: Alex