quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Psicanalices

Tenho sorte com os amigos. Não se importam nada de me fazer psicanálise. Levam a coisa mesmo a sério, que eu me deite no sofá, que feche os olhos, um incenso, uma melodia, um chocolate com avelãs e morangos, chá de frutos. E eu adormeço com a desfaçatez pouco lúcida de quem se descuida no covil do lobo.
Há alguns anos adormecia com um copo de champanhe. Agora adormeço quando me apetece. E o lobo? Veste a pele de ovelha, que não tem outro remédio.
Um homem caminhava pela praia e tropeçou numa velha lâmpada. Pegou nela, esfregou-a e um génio saltou lá de dentro: "OK! Libertaste-me da lâmpada, blá, blá, blá! ... Esquece aquela história dos três desejos! Tens direito apenas a um e ponto final!"
O homem, após alguma hesitação, disse: "Eu sempre quis ir à Ilha da Madeira , mas tenho um medo enorme de voar... e no mar costumo ficar enjoado. Podes construir uma ponte até à Madeira , para eu poder ir de carro?"
O génio riu muito e disse: "Impossível. Pensa na logística do assunto. Como é que os pilares chegavam ao fundo do Oceano Atlântico? Pensa em quanto betão armado, em quanto aço, em quanta mão de obra... Não, de maneira nenhuma! Pensa noutro desejo."
O homem compreendeu e tentou pensar num desejo realmente possível: "Fui casado e divorciado quatro vezes. As minhas mulheres disseram sempre que eu não me importava com elas e que era um insensível. Então, desejo compreender as mulheres; saber como se sentem por dentro e o que estão a pensar quando não falam connosco; saber porque estão a chorar... Saber realmente o que querem quando não dizem nada... Saber como fazê-las realmente felizes!"
O génio suspirou fundo e respondeu: "Queres a merda da ponte com duas ou quatro faixas?"

Ainda não parei de rir...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Adagietto

Música de fundo, que não consegue ser, para hoje: sinfonia nº 5, Gustav Mahler.

A beleza silencia-me. Fecho os olhos e prendo as mãos. O outono passa, ferozmente vivido. Cheira-me a figos e a maçãs, sabe-me a avelãs, a nozes, a uvas deixadas na videira tingida de vermelho. Enrosco-me no teu braço, enquanto conduzes por caminhos não premeditados, e vais roubando o perfume dos meus pulsos, beijo a beijo. Deixo-te a mão solta pelo meu colo, suspensa dos meus gestos, à espera.

Sabes-me a outono, e eu ainda queria o verão.

domingo, 21 de outubro de 2007

Diz, sim, senhora

Dizem-se asneiras num blogue? No meu blogue, eu digo asneiras? Porque me apetece agora, muito mesmo, daquelas que limpam o peito e soltam a respiração.

Fico-me por um: RAIOS PARTAM ISTO! mas leiam nele a intensidade de um "puta que pariu".

sábado, 20 de outubro de 2007

Borboleta

Pousas na almofada como uma borboleta. Respiras de mansinho. Tremem-te as pálpebras, riscadas de pequenas veias. Apertas as mãos, protegendo o sono.

E eu demoro-me por aqui, ao teu lado, à procura de uma eternidade feita de tempo e de espaço, apenas por hoje, apenas por agora. Já tenho gravada esta memória, o meu dia está feito. Sempre que voltares serás princesa do meu reino.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Dias de poesia

Gostas?

Não: não digas nada!
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já.

É ouvi-lo melhor
Do que dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.

És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.

Fernando Pessoa, 1931

É giro!
Giro? Giro? Que raio é giro? Lê lá bem. Não está mesmo a dizer para me dares um beijo agora e para pensares depois?
Não me parece. Se me apetecesse beijar-te, beijava. Queria lá saber do poema.
Eu também não. Vem cá.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Regresso da heroína

Nesta ciranda me encontro. Até logo.